A economia arrumada e a surra dos fatos, por Rodrigo Vianna

Nos anos 70, o Brasil crescia num ritmo que hoje qualificaríamos como
“chinês”. Só que não distribuía renda. Sob ditadura militar, os czares
da economia (como o professor Delfim Neto) diziam que era preciso “fazer
o bolo crescer, para depois dividi-lo”. Na oposição, a turma de
economistas do MDB (Maria Conceição Tavares e Celso Furtado eram as
bússolas dessa turma) dizia que era possível, sim, crescer e distribuir
renda – ao mesmo tempo. Não foram ouvidos.

O modelo de concentração dos militares deixou o Brasil mais injusto, e
ainda nos legou a hiperinflação, que explodiu no colo de Sarney. Quando
o MDB chegou ao poder, a casa estava tão desarrumada que eles não
conseguiram dar jeito: Planos Cruzado 1 e 2, Bresser… E nada. O caldo
entornou, e o liberalismo à moda Margareth Tatcher parecia a única
receita à mão.

Nos anos 90, sob FHC, o Brasil controlou a inflação mas esqueceu de
crescer. Limitações estruturais, diziam os tucanos, impediam o país de
ter uma economia equilibrada e forte ao mesmo tempo. Parecia maldição.

Sob Lula, finalmente, a equação fechou. Hoje, temos crescimento
semelhante ao da época da ditadura, distribuição de renda e inflação sob
controle. Não é à toa que Conceição Tavares (que também foi professora
de Serra) escolheu votar em Dilma. O governo petista botou em prática a
receita dos economistas do MDB. Lula expandiu o mercado interno,
transformou o capitalismo para poucos (marca brasileira) num capitalismo
para muitos. É um governo social-democrata, com tinturas brasileiras.
Mercado relativamente livre, mas com a mão do Estado sempre pronta para
agir. Estado democrático, aberto e plural – diga-se, nesse momento em
que os tucanos desesperados apelam e tentam vender a imagem de que o
país caminha para a ditadura. Só rindo muito…

O Banco Central acaba de sinalizar que os juros devem voltar a cair
no Brasil. O “Estadão” até deu um tempo nas manchetes sobre o
“escândalo” da receita, para reconhecer o óbvio. E por que os juros
caem? Porque a inflação voltou pra perto de zero (pelo terceiro mês
seguido). No acumulado de 12 meses, a taxa está abaixo da meta de 4,5%. Ao mesmo tempo, a economia cresce em torno de 7% a 8%. E a miséria se reduz.

Ah, o Lula tem sorte, diziam meus amigos tucanos durante o primeiro mandato. “Ele não pegou crises bravas, como o FHC”.

Aí veio 2008, os EUA desmancharam (a tal ponto que brasileiros compram até o Burger King), e a Europa ameaçou ruir…

 E o Brasil?

O Brasil cresce, com inflação sob controle e distribuição de renda. Isso é sorte? Ou é escolha e ação?

Quando a crise veio, há dois anos, os “consultores” liberais diziam
que Mantega/Lula estavam errados por expandir o gasto público e usar os
bancos estatais na reação ao tumulto financeiro mundial. A velha receita
dos consultores e economistas atucanados era: apertar o cinto, reduzir
gastos. Isso teria lançado o Brasil numa espiral invertida, de
estagnação e desemprego. Confiram o que estou falando nesse ótimo vídeo.

Lula/Mantega fizeram a escolha oposta: gastar, e colocar os bancos
estatais pra emprestar. Ajudaram a economia a reagir, não com dinheiro
público a fundo perdido na mão de banqueiros e empresário privados (como
fizeram Obama e Merkel, por exemplo). Mas com empréstimos, que serão
pagos.

Por que o Brasil pode reagir à crise? Porque não privatizou seus
bancos públicos. Caixa Economica Federal, Banco do Brasil e BNDES
cumpriram um papel decisivo. O programa tucano incluía privatizar tudo,
como se fez na Argentina – sob Menem.

O desafio de Dilma é manter tudo isso, e recuperar a capacidade de
inovação da Indústria brasileira. O país não pode mais assistir sua
balança comercial ser engordada quase que apenas com produtos primários.
O Brasil precisa escolher alguns setores-chave e fortalecer sua
indúsria nessas áreas. O Brasil precisa ter montadora nacional de
carros, fábricas de computadores (ou, ao menos, de componentes para
computadores). Esse é o desafio. Não podemos andar pra trás e virar uma
fazenda pra alimentar chinês!

Poucos países no Mundo possuem a estrutura pública para crédito que o
Brasil conseguiu manter. Os EUA não tem um BNDES. A China tem
ferramentas parecidas com as brasileiras. Mas sob partido único, e sem
liberdade.

Não se trata de discurso de “jornalista petralha”, como dizem por aí blogueiros (eles, sim) apedeutas e sujos.

Não é à toa que economistas não-alinhados com os velhos liberais
brazucas reconhecem os avanços. Como fez o italiano Pier Carlo Padoan,
nessa entrevista à BBC.

E não é à toa que a Ana – a moça que faz a limpeza e a arrumação lá
em casa – chegou outro dia para trabalhar dirigindo o carro que comprou –
financiado.  

Perguntei para a Ana o que ela acha das denúncias contra o Lula. “No
meu bairro, lá na periferia da zona leste, ou na minha terra, lá na
Bahia, se o sujeito falar mal do Lula e da turma do Lula, ele corre o
risco de apanhar.”

Bem, de certa forma, é o que os tucanos estão aprendendo agora. Estão
levando uma surra. Quanto mais usam a velha mídia para bater no PT e em
Lula, maior é a pancada que lhes volta na testa.

É uma surra dos fatos, dos números da economia. E vai virar uma surra de votos

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